COVID-19
Balanço
de 2020 - O que Aprendemos?
28.Dezembro.2020
Em
2020, a pandemia COVID-19 transformou-se numa crise global, num dos maiores
desafios da nossa época, obrigando cidadãos, organizações e governos a mudar
atitudes e comportamentos. Não passámos apenas a lavar as mãos mais
frequentemente. Esta experiência mudou a forma como nos relacionamos, como
exercemos a parentalidade e a cidadania, como trabalhamos e organizamos, social
e individualmente, o quotidiano. Apesar de todas as suas consequências
negativas, os momentos de crise e adversidade também podem impulsionar a
resiliência e a aprendizagem. Em cerca de oito meses, a pandemia COVID-19
provou que não há apenas uma resposta, uma forma de vivermos. Temos uma
história nova para contar e essa narrativa pode conduzir a resultados
diferentes. Este ano e com esta pandemia aprendemos algumas coisas e, muitas
outras, foram colocadas em evidência.
- A
consciência e a utilização do conhecimento científico para orientar as
nossas escolhas e decisões no dia-a-dia. A ciência não sabe tudo nem tem respostas
absolutas e estáticas, mas sobretudo em momentos de crise, pode ter um
impacto muito significativo, contribuindo para apoiar a resolução de
problemas complexos. Pelo contrário, ignorar a ciência pode colocar-nos em
situações graves de vulnerabilidade.
- A
transparência da comunicação e o combate à desinformação são cruciais. Procurar divulgar e partilhar apenas
informação de fontes fidedignas e cientificamente válidas é uma das
estratégias de prevenção e mitigação da transmissão do(s) vírus mais
eficazes, porque promove comportamentos pró-saúde e pró-sociais adequados.
- A
Saúde (Física e Psicológica) é uma responsabilidade de todos, um
empreendimento cooperativo. Somos
todos parte de um ecossistema de Saúde e todos (cidadãos, organizações e
decisores) desempenhamos nele um papel ativo. A Saúde tornou-se uma
preocupação e uma prioridade diárias devido ao novo coronavírus, no
entanto, é importante não esquecer que, para além desta pandemia que nos afeta
a todos, há milhares de pessoas que, todos os dias, vivem outras
"pandemias" como o cancro, as doenças cardiovasculares, as
demências, a obesidade ou os problemas de Saúde Mental.
- A
nossa liberdade termina onde a empatia pelo outro começa. Perante um vírus altamente
contagioso, que se transmite com base no nosso comportamento, foram
implementadas medidas (como o dever de recolhimento cívico, o número
máximo de pessoas num determinado espaço ou o distanciamento físico) que, indiretamente,
influenciam direitos humanos fundamentais de movimento e liberdade. Nesta
situação, o nosso sentido de empatia leva a que a grande maioria de nós
respeite estas medidas, mas também a garantir que os meios tecnológicos
são utilizados para que familiares possam comunicar com pessoas doentes
e/ou a morrer, para garantir atenção e para denunciar casos de violência
doméstica ou de crianças em risco ou perigo, por exemplo.
- A
Saúde Psicológica é essencial para o nosso bem-estar. Um bom nível de Saúde Psicológica
ajuda-nos a adaptar às exigências, adversidades e mudanças que acontecem.
Pelo contrário, a falta de Saúde Psicológica constitui uma vulnerabilidade
acrescida, dificultando a nossa resposta a situações de stresse e de
incerteza. A pandemia evidenciou ainda o papel e a importância do
contributo da Ciência Psicológica e dos Psicólogos para a resolução de
problemas e desafios sociais complexos, junto de decisores, profissionais
de saúde, professores e educadores, pais e cuidadores, adultos e idosos,
crianças e jovens.
- Somos
mais vulneráveis, mas também mais resilientes do que pensávamos. A pandemia confrontou-nos com a
nossa fragilidade – um vírus invisível foi capaz de abalar grande parte
daquilo que tínhamos como certo. Embora a vida seja feita de incertezas, a
pandemia introduziu um grau incomum de imprevisibilidade, interferindo com
a nossa possibilidade de fazer planos e a nossa perceção de controlo.
Apesar de a nossa vulnerabilidade ter sido enfatizada, revelámos uma
grande capacidade de adaptação e de superação.
- Somos
interdependentes.
Durante uma crise sem fronteiras, renovámos o nosso sentido de comunidade
e coesão social. A pandemia impulsionou um movimento global de
solidariedade social, entreajuda e apoio, valorizando a conexão social e
os comportamentos em prol do bem comum como o alicerce da nossa vida,
mesmo quando o distanciamento físico é um imperativo. As desigualdades
são, cada vez mais, encaradas como uma ameaça à resiliência das
comunidades.
- Podemos
relacionar-nos de forma diferente.
O "distanciamento social" (porque é apenas físico) criou uma
forma de "intimidade social". Ligámos mais vezes a familiares e
amigos, participámos em encontros virtuais e estamos mais disponíveis para
partilhar histórias ou vivências pessoais.
- Podemos
organizar o trabalho e a vida profissional de forma diferente. As imposições da pandemia
revelaram ser possível existirem outras formas de organização do trabalho
e realidades profissionais. Por exemplo, a modalidade de teletrabalho pode
constituir uma opção, em vez de uma solução reativa, e trazer potenciais
benefícios para as organizações e os colaboradores, nomeadamente a
melhoria do equilíbrio entre a vida pessoal e profissional.
- Podemos
aprender de forma diferente.
A experiência generalizada do ensino à distância, em diferentes níveis e
sistemas de ensino, abriu possibilidades a novas formas de
ensino-aprendizagem e de relação entre estudantes e professores, escola e
família.
- Podemos
organizar o espaço de forma diferente. Os espaços públicos podem adaptar-se à necessidade
de distanciamento físico, reinventando-se (por exemplo, através do
aproveitamento dos passeios, alargamento das vias pedonais e ciclovias e
rentabilização dos espaços verdes). O espaço doméstico é cada vez mais
sentido como um "refúgio ou espaço seguro" (excetuando casos de
conflito e violência doméstica), o epicentro da nossa vida, podendo
"crescer" para cumprir novas funções e tentar conciliar
necessidades de privacidade e momentos familiares.
- Os
nossos comportamentos individuais (e coletivos) têm um impacto positivo,
imediato e visível na melhoria da qualidade do ambiente. Por exemplo, o confinamento
conduziu a uma diminuição global das emissões de gases com efeito de
estufa. Podemos, de facto, consumir energia de forma mais responsável e sustentável.
- É
imperativo pensar nas dimensões éticas das soluções, nomeadamente aquelas
que são baseadas em tecnologia. Exemplo
disso são as aplicações que permitem rastrear o novo coronavírus ou o
facto de nem todos os cidadãos estarem equipados com o hardware/hardskills
e o software/softskills necessários à participação numa sociedade
tendencialmente mais virtual. Há ainda necessidade de resolver,
eticamente, tensões entre os princípios da utilidade e da equidade quando
se consideram decisões financeiras ou relativas aos cuidados de Saúde.
Em
2021 continuaremos a lidar com o(s) desafio(s) social(ais) que a pandemia
CODIV-19 representa. E aprenderemos mais.
Fonte: OPP (Ordem dos Psicólogos Portugueses)
NewsLetter/NewsFeed OPP
O Bloguinho da Educação
Educadora Joaquina Damião
2020