Queridos leitores, perdoem-nos, mas hoje temos de vos importunar com um texto um pouco mais longo do que o habitual. Um texto sobre o poder que, embora não pareça, é nosso, mas que, por vezes, atraídos por comodismo e descontos (quem não?), vacilamos no momento de usar. No mundo dos livros nem tudo é bonito, nem tudo é feio — é como no mundo lá fora, porque haveria de ser de outra maneira? Existem os autores e os ilustradores, os mediadores e os editores. Mas existem também os lugares onde se vendem os livros, palco de algumas lutas, euforias e desgostos. Já todos passámos por estes lugares: gigantes online, portugueses e estrangeiros; cadeias livreiras médias e grandes; livrarias independentes; lojas online de grandes ou pequenos editores. O que querem, queremos, todos? Vender livros, claro. Mas, em alguns casos, não só. Em alguns casos queremos outras coisas para além desta. É importante, pois, perguntar: Será igual comprar num sítio ou noutro? Para o futuro é a mesma coisa? Para a diversidade de livros, autores e géneros esse lugar é indiferente? Que livros e livrarias queremos que existam no futuro? Já escrevemos várias vezes sobre este assunto, tentando tornar mais claro e transparente para os leitores o que está em causa (podem espreitar aqui algumas reflexões mais relacionadas com a relação comercial entre livrarias e editoras). Mas é importante que não o esqueçamos: nestes tempos em que o cerco aperta ainda mais, o lugar onde escolhemos pôr o nosso dinheiro pode ser decisivo (sim, decisivo quando multiplicado por muitos) em relação ao lugar para onde queremos empurrar o mundo. Se gostamos de diversidade (editores e livrarias plurais que reflitam diferentes géneros e vozes); se valorizamos a existência de editoras e livrarias atentas e dinâmicas, capazes de trazer para o espaço público livros que nos façam refletir; se valorizamos os autores, mesmo os que ficam fora dos tops; se gostamos da surpresa e da riqueza que encontramos nas livrarias independentes; se valorizamos os livreiros e o tempo que nos dedicam; se preferimos não dar força a campanhas e posturas comerciais que são agressivas porque destrutivas (dos autores, editores e livrarias independentes), então, devemos escolher os lugares que funcionam da forma mais justa para com todos os elos desta cadeia. É por isso que fazemos o apelo: Comprar nos gigantes online não é bom para o futuro dos livros. E quando dizemos livros, queremos dizer, ideias, democracia, liberdade, e por aí fora. Ponham o vosso poder em ação. |